Vereador casa com vestido rosa em noite de agradecimento pelo amor da família
O prefeito e o vice-prefeito foram padrinhos
26 FEV 2017 • POR Valdeir Simão • 11h26Casamento de um vereador de Amambai “lacrou” o fim de semana no município de apenas 30 mil habitantes, na região Sul do Estado. Ilzo Arce Vieira é um exemplo de respeito à diversidade na política sul-mato-grossense. Homem na carteira de identidade, mas mulher na rotina de trabalho como parlamentar, ele já foi campeão de votos em 2012 e teve o mandado renovado em 2016.
Enfermeiro no Hospital Regional de Amambai e cabeleireiro aos finais de semana, Ilzo é hoje uma das personalidades mais conhecidas na cidade. Ontem, reuniu os amigos e parentes para dizer sim ao noivo, Osmar Recalde. O prefeito e o vice foram padrinhos.
“Queria abrir as portas para Amambai inteira, mas a gente não tinha dinheiro”, justifica o vereador que agradeceu a ajuda para realização de um sonho. "Foi o dia mais feliz da minha vida, graças a minha família e a do meu noivo, que não mediram esforços para fazer a festa."
A cerimônia ocorreu em um clube da cidade, apenas para as famílias dos noivos e amigos mais próximos, diz Ilzo. O vereador surgiu com todo glamour que lhe é peculiar. Escolheu um vestido de noiva cor de rosa, rodado e com renda cheia de aplicações em prata. Nas costas, vários laços, do cabelo à cintura.
Entrou no salão ao lado do pai, seu Ivo, de 80 anos. A mãe morreu quando ele ainda era jovem. “Meu pai é a pessoa que mais amo neste mundo. Quando tinha 18 anos, falei da minha sexualidade, eu já estava preparado para me mudar para Campo Grande, para fugir daqui. Meu pai me segurou e disse que morreria de tristeza se eu fosse embora”, conta.
Ilzo assumiu o gênero feminino, mas nunca quis mudar de nome. “Fui batizado assim, respeito a escolha de meus pais. Também perderia a minha personalidade”, explica.
Ontem, o pai ganhou discurso emocionado de agradecimento. “Eu disse que ele fechou com chave de ouro mais uma fase da vida dele, entrando comigo. O amor venceu de novo qualquer preconceito em família”, diz o vereador.
Vingar na cidade conservadora, na região de fronteira com o Paraguai, não foi tarefa fácil, por isso tanto reconhecimento à família. “Quando falei pra todo mundo que era gay, era a época de homem de bigodão e costeletas. Tinha gente que me colocava apelidos, falava coisas, mas nunca dei espaço. Sempre pensei em trabalhar e viver a minha vida”, conta.
O noivo apareceu há 11 meses, mas os dois já se conheciam desde a década de 90. “Ele sempre me incomodou, mas nunca quis ficar com ele. Depois, foi embora para São Paulo e a gente ficou 5 anos sem se ver. Dai, ano passado, ele apareceu no hospital para levar o pai dele”, lembra.
Uma declaração apaixonada quebrou, finalmente, a resistência. “O Osmar disse que me amava muito e que não abriria mão de mim. Ficou 20 dias insistindo, daí resolvei aceitar o namoro”, conta Ilzo.
Os dois não terão lua-de-mel, porque na próxima quinta-feira haverá sessão na Câmara.
Fonte: Jornal do Estado MS.