Brasil

Justiça da França apura propina para escolha da Olimpíada do Rio, diz jornal

3 MAR 2017 • POR Paulo Ricardo e Youssef Nimer • 15h13

O Jornal francês "Le Monde" publicou na edição desta sexta-feira (3) que um empresário brasileiro pagou US$ 1,5 milhão ao filho do ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo, três dias antes da votação para escolha da sede da Olimpíada de 2016. Segundo a publicação, a Justiça francesa investiga se o pagamento foi propina para que o pai dele votasse no Rio, que venceu a eleição e sediou os Jogos, no ano passado.

De acordo com a publicação, o pagamento foi feito por Arthur Cesar Menezes Soares Filho, que é ligado ao ex-governador Sérgio Cabral, a Papa Diack, filho do senegalês Lamine Diack. Lamine era membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) e foi um dos que votaram no Rio como sede dos Jogos de 2016.

Ao G1, o diretor de comunicações da Rio-2016 disse que tem "plena certeza" de que a escolha da cidade foi por meio de uma "eleição limpa". "Há uma investigação em curso, mas o que se sabe do nosso lado é que a vantagem de 63 a 32 [votos a favor do Rio] é que a vitória foi por ampla maioria", afirma.

Após perder por duas tentativas a sede (para Atenas, em 2004, e Londres, em 2012), o Rio venceu, em 2009, a escolha para os Jogos de 2016. A diferença de 29 votos contra Madri foi apenas no terceiro turno da eleição, realizada na Dinamarca. No primeiro turno, o Rio ficou em segundo, atrás da capital espanhola (28 votos). Após a eliminação de Chicago, o Rio teve 46 votos, contra 29 de Madri e 20 de Tóquio.

A publicação europeia diz ainda que o depósito feito três dias antes da eleição foi por meio de empresas com endereços em paraísos fiscais. O "Le Monde" chama o caso de "evidência de corrupção".

Arthur era dono da Facility, grupo de empresas que presta serviços ao governo e à prefeitura do Rio em diversas áreas, como saúde, limpeza, alimentação e até no Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro (Detran). No início de fevereiro, ele prestou depoimento ao Ministério Público Federal do Rio.

Para os procuradores, ele pode ter envolvimento no esquema de corrupção chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral. Arthur negou que tenha pagado qualquer vantagem indevida para que suas empresas fossem contratadas pelo governo.

Ainda segundo o jornal "Le Monde", o pagamento ao filho de Diack teria sido feito através da empresa de Arthur César, com sede nas Ilhas Virgens britânicas, a Matlock Capital Group.

O jornal afirma também que um segundo depósito, de US$ 500 mil, teria sido feito numa conta na Rússia do filho de Diack. Pai e filho são investigados na França.

O "Le Monde" diz também que, no dia da escolha, o ex-atleta da Namíbia, Frankie Fredericks, recebeu de Papa Diack, um pagamento de quase US$ 300 mil. Na época da votação, Fredericks era presidente da Comissão de Atletas do COI e encarregado de supervisionar a lisura da votação para a escolha da sede de 2016. Atualmente, ele preside a comissão de avaliação das candidatas a sede de 2024.

O Comitê Olímpico Internacional divulgou uma nota à imprensa em que afirma que está colaborando com as investigações na França e já afastou Lamine Diack das funções em novembro de 2015.

O COI disse que confia na versão de Fredericks, de que ele está concentrado em explicar sua inocência e de que os US$ 300 mil pagos a ele teriam sido referentes a serviços de marketing esportivo. O comitê informou ainda que, "imediatamente depois de ter sido estabelecida uma ligação entre este pagamento contratual e o voto para a cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos de 2016, o próprio Fredericks recorreu também à Comissão de Ética do COI, que agora acompanha todas as alegações para esclarecer completamente esta questão" (leia a íntegra da nota no fim da reportagem).

Papa Diack e Lamine Diack estão afastados do esporte. O filho foi banido do atletismo, enquanto o pai foi preso suspeito de lavagem de dinheiro e corrupção.

O "Le Monde" entrou em contato com os investigados e somente o filho respondeu. "Boa sorte com a sua reportagem", teria dito ao jornalista.

O advogado de Arthur César de Menezes Soares Filho disse que seu cliente desconhece o assunto e que jamais teve qualquer notícia sobre o fato divulgado pelo jornal francês.

Leia a íntegra da nota do COI:

"O COI tomou conhecimento das sérias alegações feitas pelo jornal francês Le Monde sobre a votação para selecionar a cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016. O COI é parte civil no processo em curso iniciado pelas autoridades judiciais francesas contra ex-presidente da IAAF, Sr. Lamine Diack, e o seu filho, Papa Massata Diack, então consultor de marketing da IAAF. O COI continua empenhado em esclarecer esta situação, colaborando com o Ministério Público. A investigação já mostrou que o Sr. Lamine Diack, que anteriormente era membro honorário do COI, não exerceu qualquer função dentro do COI desde novembro de 2015. O COI entrará novamente em contato com as autoridades judiciais francesas para receber informações sobre as quais a reportagem no Le Monde parece estar baseada.

No que diz respeito ao sr. Fredericks, ele informou o COI e explicou a situação e sublinhou a sua inocência imediatamente após ser contactado pelo jornalista. O COI confia que Fredericks trará todos os elementos para provar a sua inocência contra estas alegações feitas pelo Le Monde.

De acordo com Fredericks, o suposto pagamento foi feito pela Pamodzi Sports Consulting, que era dirigida por Papa Massata Diack e em conexão com a promoção, desenvolvimento de propriedades esportivas em conexão com o Programa de Marketing da IAAF, eventos da IAAF e a o marketing do Programa Africano de Atletismo 2007/2011. Fredericks tinha um contrato de marketing com a Pamodzi Sports Consulting entre 2007 e 2011. Ele se voltou para a Comissão de Ética da IAAF ontem.

Imediatamente depois de ter sido estabelecida uma ligação entre este pagamento contratual e o voto para a cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos de 2016, o próprio Fredericks recorreu também à Comissão de Ética do COI, que agora acompanha todas as alegações para esclarecer completamente esta questão. "

Fonte: G1