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Artigo

Santo de casa só faz milagres

Gleycielli Nonato é escritora, atriz, produtora cultural e colunista do Diário X

20 DEZ 201616h:48

Sabe aquela velha frase : “SANTO DE CASA NÃO FAZ MILAGRE”???  ESQUECE!

Aqui no pantanal, ela não existe, não pode existir, e nem tem brecha para querer existir. O santo da casa fala Axé, Amém, Aleluia e opera trabalhos e milagres. Alguns conseguem até a viver de sua arte, em meio a tantos tapinhas nas costas. Fazer arte dá trabalho, É UM TRABALHO. E artista nenhum vive de cerveja - sério! Vocês não têm noção de quanta gente acha isso. Nós precisamos comprar sapatos, roupas, comida, pagar aluguel, colocar gasolina, comprar um pneu novo pra bike, colocar cordas novas na viola, comprar pinceis, lápis, papel... enfim, SOBREVIVER.  Assim como o açougueiro, o jardineiro, o advogado, o servidor...

E é por isso que eu afirmo que santo de casa é o que mais faz milagres; imagina... é "foidis" viver da arte nestas condições. Pense em algo difícil! Aplausos é bom, alimenta a alma; mas, e o alimento do corpo? Conheço muitos artistas que deixaram de tentar viver da arte para ir trabalhar no comércio, prestar concurso público. Fazer coisas que no final tomam seu tempo, desgasta seu corpo, elimina sua inspiração. O ócio para o artista é necessário, gente é "muuuuitooo" necessário, entendam isso, e a pajelança também. Cada um tem sua receita própria de criação, e não cabe a ninguém duvidar ou criticar. Olhe, vou contar uma histórinha:

Tenho um amigo que é músico e compositor, ele vivia de tocar na noite, quase todos os dias tinha um lugar para tocar, estava na batalha. Pela manhã dormia até as dez, normal. Afinal, trabalhava de noite, de tarde ia até o rio e ficava lá pescando, enquanto o peixe não vinha, ele compunha músicas lindas, dignas de estarem em qualquer CD de "auge". Mas as coisas foram ficando apertadas, os restaurantes preferiam contratar duplas covers de sertanejo, a contratar um som com músicas próprias, e quando pagavam, quando pagavam..., lhe davam menos, porque era mais interessante ouvir algo já cômodo que passava na rádio, do que ter saco para uma letra diferente, apesar de que ele mesclava bem músicas dos outros com as dele. Mas, enfim é difícil. Para os vizinhos ele era um vagabundo, dormia até tarde, chegava cedo da noite anterior, para o comércio era um pobre coitado, para a família um mendigo sonhador. "Puts". Foi então que ele tomou uma decisão drástica: prestou um concurso. Virou bancário. As contas começaram a ser pagas, mas ele não tem mais tempo de escrever, não toca mais como antes, fica cansado demais para ir tocar na noite. O mundo perdeu um excelente músico e ganhou um bancário frustrado, que continua devendo, pois as contas só mudaram de patamar. Pois é... palmas é bom, mas só elas não! Poderia ser diferente.

É por isso meus caros, que eu venho em apelo, pedir para você que vai fazer seu aniversário, confraternização, casamento, churrasco com os amigos das antigas.. enfim... pra que contratar um artista de fora? Tem tanto talento por aqui. Dê valor para quem é de sua terra, só ele sabe cantar, tocar, pintar, escrever as coisas que você conhece. Meu querido, artista não é tudo igual; aquele que canta, pinta, toca, escreve as coisas de seu quintal é com certeza, bem melhor.

M9

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