Coxim MS
Qual seu sonho? O do coxinense Thales está sendo realizado nos Estados Unidos
Técnico em Alimentos formado pelo IFMS, profissional trabalha na maior indústria processadora de proteína animal do mundo
Quem escuta Thales Henrique Barreto Ferreira, 28 anos, falar sobre o Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) fica logo com vontade de conhecer essa instituição pública de ensino que, segundo ele mesmo, abriu sua mente e portas, lhe possibilitou conhecer o mundo, e lhe fez descobrir sua vocação profissional.
Formado há uma década na primeira turma do curso técnico integrado ao ensino médio em Alimentos no Campus Coxim, desde 2020 Thales trabalha na JBS, maior indústria processadora de proteína animal do mundo, que tem um frigorífico no município sul-mato-grossense.
Inicialmente contratado como controlador, acabou promovido a supervisor. Recentemente, foi selecionado em um programa internacional da empresa e, há alguns meses, trabalha nos Estados Unidos, na mesma área de formação técnica.
Nascido e criado em Coxim, cidade pesqueira com pouco mais de 30 mil habitantes, filho de motorista e dona de casa, Thales sempre estudou em escola pública. Ingressou no IFMS em 2011, após passar na prova de ingresso, o Exame de Seleção.
No Campus Coxim, apaixonou-se pela área de Alimentos. Durante o curso de nível médio, desenvolveu projetos de pesquisa como bolsista e apresentou trabalhos em feiras científicas regionais e nacionais.
Após se formar no IFMS, ingressou na faculdade e se graduou como Engenheiro de Alimentos em outra instituição pública, a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
"Se você falasse para o Thales de 2011 que um dia ele iria ser um profissional e morar nos Estados Unidos, acho que eu daria uma risada e falaria que, infelizmente, isso estava totalmente fora da minha realidade. Então olhar para trás, tudo que vivi, onde estou agora, é algo que transborda um sentimento de realização. Sair de um lugar muito pequeno, igual Coxim, atravessar o oceano e vir parar aqui é como um sonho", celebra.
Quer saber mais sobre essa história inspiradora? Então confira abaixo o que mais ele tem a contar!
A Base de Tudo - Conhecer a trajetória de Thales é conhecer a trajetória de quem teve a vida transformada pela educação pública brasileira. Aluno de escolas públicas durante toda a vida, ele ressalta que o ponto mais importante para seguir dedicado aos estudos foi sua base familiar.
"Muito sabiamente, meus pais entenderam o estudo como ferramenta de mudança. Então minha irmã e eu sempre fomos incentivados a estudar, para termos um futuro diferente em virtude disso. Só consegui estar onde estou porque tive uma rede de apoio muito forte, e boas referências de vida", ressalta.
Da Escola Estadual Padre Nunes, em Coxim, ele ingressou no IFMS em 2011 por vontade própria e após estudar bastante para fazer o Exame de Seleção, prova de ingresso para os cursos técnicos integrados ao ensino médio. Naquela época, a instituição ainda dava os primeiros passos no processo de implantação.
"Quando cheguei ao IFMS era 'tudo mato' ainda! O técnico integrado era um tipo de ensino novo e diferente, não tínhamos noção de como era porque não havia tido uma turma antes. Não conhecíamos a instituição, mas nos apresentaram uma coisa excepcional, e no futuro descobri que realmente era tudo aquilo que nos prometeram. Nós fomos desbravando para que outras pessoas caminhassem no futuro", analisa Thales.
Na educação profissional e tecnológica, Thales conheceu a docente da área de Alimentos Cláudia Leite Munhoz, quem considera ter sido fundamental em sua formação.
"Não sabia o que era técnico em Alimentos, o que fazia, as perspectivas de futuro no âmbito profissional, era tudo muito novo. A professora Cláudia foi primordial na minha trajetória. Acredito que ela via em mim alguém que queria fazer muitas coisas. E acho que esse desejo também inspirava ela".
Foi a professora Claudia que iniciou um projeto de pesquisa e buscava por estudantes voluntários para participar. Thales encarou o desafio, e diante de bons resultados começou a participar de eventos científicos, como a Feira de Tecnologias, Engenharias e Ciências de Mato Grosso do Sul (Fetec-MS), em 2012. Ali entendeu o que era uma feira científica.
"Foi um choque de conhecimento muito grande, porque a gente conhece pessoas de todo o estado, muitas da área que vêm te ajudar, te agrega. Para quem faz pesquisa, isso é excepcional".
Após ter o projeto premiado na Fetec-MS, Thales percebeu que podia ir além. Foi assim que o projeto de pesquisa acabou sendo inscrito para a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), realizada anualmente pela Universidade de São Paulo (USP).
"Era um sonho muito distante da gente, e quando nosso projeto foi aceito ficamos anestesiados de alegria. Fomos para São Paulo, e tudo que estávamos vivendo já era uma conquista. Lá apresentamos o projeto para pessoas incríveis do Brasil inteiro. No momento da premiação, quando chamaram nossos nomes, eu não sabia se chorava, pulava ou sorria! Foi algo muito mágico, e eu tenho essa recordação muito forte na minha mente".
De Coxim para o Mundo - Com todas essas experiências, Thales descobriu seu amor pela pesquisa científica e pela área de Alimentos. Após se formar como técnico no IFMS, cursou Engenharia de Alimentos.
"Acredito que a minha vocação profissional é trabalhar na área de Alimentos, seja como técnico ou engenheiro. Sempre achei que fosse me tornar professor, mas a vida é meio louca, então acaba nos apresentando outras coisas".
A trajetória profissional de Thales começou em 2020. Recém formado como engenheiro de Alimentos pela UFGD, a pandemia da Covid-19 começava. Quase tudo fechou no Brasil e no mundo, mas ele queria e precisava trabalhar.
"Se tem uma coisa que não parou e não para nunca é a indústria de alimentos. Muito semelhante a que os médicos fizeram, que estavam na linha de frente, nós, profissionais da área, também estávamos na linha de frente para poder contribuir e ter alimento disponível para as pessoas".
Foi nesse ano que, após passar por quatro processos seletivos, começou a trabalhar na JBS. Thales encarou como a grande oportunidade de sua vida.
"Foi um divisor de águas porque me tornei profissional. Tudo aquilo que tinha estudado, desde o técnico integrado no IFMS, o conhecimento que aprimorei na graduação, iria colocar em prática. Entendi que, se a gente fizer um trabalho com dedicação e empenho, os resultados vão aparecer naturalmente pois são consequência de algo que se quer".
Após nove meses de trabalho na JBS, Thales recebeu o desafio de trabalhar em um setor maior da empresa. Logo depois, passou por outro processo seletivo interno e se tornou supervisor de produção. Trabalhou por mais de quatro anos na JBS em Dourados. Mas não parou por ali.
Em meados de 2023, foi aberta uma seleção bem específica, apenas para supervisores de produção, no Programa JBS Sem Fronteiras, que exporta profissionais para outros lugares do mundo. Eram dez vagas para cerca de 90 funcionários do Brasil inteiro. Thales vai passando em cada fase da seleção, muitas entrevistas e provas de idioma.
"Nunca tive o 'sonho americano', mas sabia que poderia ser a maior oportunidade da minha vida. O que estou vivendo hoje é uma conquista dos meus pais, que acreditaram na educação como ferramenta de mudança. Sou muito grato, e tenho orgulho das minhas origens".
Atualmente morando no estado norte-americano do Missouri, Thales vive o maior desafio profissional, atuando como supervisor de qualidade.
"Tive muito medo da mudança, aceitei vir para os Estados Unidos, mudar para o outro lado do mundo, mas entendi que o medo vem da prudência. E que a gente não pode deixar o medo limitar a gente. O medo tem que nos projetar para lugares que a gente não conhece".
E mesmo tendo se formado no IFMS há uma década, Thales ainda é grato por tudo o que a instituição lhe proporcionou.
"Tudo que tenho hoje, o profissional que sou, é muito por conta do IFMS, que abriu minha mente, que abriu portas para mim, que me possibilitou conhecer o mundo, e que me fez entender que essa era a profissão que eu queria para minha vida".
O conselho que ele dá para quem, assim como ele, quer realizar seus sonhos, é aproveitar as oportunidades que aparecerem e sempre estar preparado para elas.
"O conhecimento é o que nos prepara. Ter um ensino técnico, um conhecimento específico, é um divisor de águas. E é o que o IFMS tem para ofertar para quem está em busca disso, para quem quer iniciar uma carreira profissional".
E complementa. "Às vezes achamos que existem lugares que não nos cabem, que não pertencemos a eles, que é impossível chegar até lá. Só que não existe lugar impossível. Se quisermos alguma coisa, temos que batalhar por ela. Claro, existe uma série de outras coisas ali por trás, o processo é mais fácil para alguns, mas temos que tentar, correr atrás", finaliza.
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