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Diferença entre Enem e Ensino Médio foi dificuldade para alunos
Com o novo Ensino Médio, estudantes apontam que as matérias novas atrapalham na preparação para o Enem, já que os conteúdos não caem nos vestibulares
Estudantes do Ensino Médio de Mato Grosso do Sul apontam como principal dificuldade na realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no ano passado, a diferença entre os conteúdos abordados pelo novo modelo de Ensino Médio e o que é cobrado no vestibular.
Roger Murça, de 17 anos, estudou em escola pública durante todo o Ensino Médio e realizou o Enem pela primeira vez no ano passado. O jovem relata que achou bom o nível de dificuldade da prova, principalmente para quem nunca tinha feito antes, apesar dos textos extensos, que “embaralhavam a visão” durante o exame.
O estudante não fez curso preparatório para o vestibular e tirou 760 na redação, mas a principal dificuldade encontrada foi por conta do conteúdo.
“Esse novo modelo do Ensino Médio dificulta bastante a vida do aluno em preparação para as provas do fim de ano, são muitos conteúdos que não são cobrados nas provas. Dependendo do curso que você deseja, só a escola te ajuda a fazer uma ótima prova”, ressalta o adolescente.
Roger estudava em período integral e escolheu o eixo de Linguagens, já que pretende cursar Turismo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). O adolescente aponta que se preparou com o conteúdo aprendido dentro da sala de aula.
Outra aluna da rede pública de MS, Letícia Amaral, de 17 anos, também realizou o Enem pela primeira vez em 2023. Ela se preparou sem curso pré-vestibular, fazendo provas antigas para ter uma base.
“Eu achei que Matemática não estava tão difícil, mas Ciências da Natureza achei mais difícil que nos outros anos. A redação achei bem fácil, os textos motivadores também estavam bons”, relata a adolescente, que obteve 940 na redação.
Apesar de ter se empenhado nos estudos, Letícia também afirma que vê divergências entre o novo Ensino Médio e o Enem. A jovem quer cursar Química Bacharelado ou Farmácia na UFMS.
“Esse novo modelo do Ensino Médio não é bom para o Enem atual. Porque assim, na minha escola, a gente começou a ter o novo Ensino Médio mais cedo, então tinham matérias à parte, que são as matérias das novas grades curriculares, e algumas eram úteis para o vestibular, outras não tinham nada a ver com o que ia cair na prova”, conta a estudante.
“Assim, em vez de ajudar, atrapalha em alguns aspectos, porque a gente perde um pouco do ensino básico, o que em muitas escolas públicas já não tem, para ter algo à parte, diferente, que muitas vezes não ajuda no vestibular”, completa.
Mato Grosso do Sul está entre os estados do País em que os alunos não obtiveram nota máxima na redação do Enem.
A última vez que o Estado teve representantes que tiraram 1.000 na redação foi em 2020, com duas estudantes entre os 28 jovens brasileiros que conseguiram o maior número de pontos.
Reformas
O mestrando em Educação pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) Luís Eduardo de Matos afirma que o novo Ensino Médio tem uma lógica mais neoliberal, em que o principal interesse é a formação de mão de obra.
“O novo Ensino Médio, se você pega a grade curricular dele, o mínimo do mínimo é ensinado. Lógico que tem arranjos que eles fazem com os chamados itinerários formativos, mas que não ensinam aquilo que é cobrado no Enem”, comenta o especialista.
Por conta de todas essas divergências, apontadas por alunos e educadores, o governo federal propôs novas diretrizes, que devem redefinir a Política Nacional de Ensino Médio no Brasil, por meio do Projeto de Lei n° 5230/2023, que ainda tramita na Câmara dos Deputados.
A proposta tem como principais aspectos mudanças na carga horária, nas disciplinas obrigatórias, na formação dos professores e nos itinerários formativos.
Esse último foi um dos principais pontos da mudança no modelo de Ensino Médio, realizada em 2017, que permite que o estudante complete a grade curricular com áreas de seu interesse.
O projeto recompõe as 2.400 horas anuais para as disciplinas obrigatórias, sem a integração com cursos técnicos, enquanto atualmente as escolas destinam apenas 1.800 horas para as disciplinas obrigatórias, da Base Nacional Comum Curricular (BNSS), e o restante, 1.200 horas, para os itinerários formativos ou para formação técnica e profissional.
Já no caso dos cursos técnicos, a nova proposta pretende destinar 2.100 horas para disciplinas básicas e pelo menos 800 horas para aulas técnicas.
Luís Eduardo de Matos avalia que esse aumento da carga horária de disciplinas básicas é fundamental para diversos profissionais da educação.
Além da carga horária, a oferta de ensino profissionalizante também é algo pontuado como um item a ser melhorado pela reforma do novo Ensino Médio.
Correio Estado