Política
Riedel faz balanço de deputados, reage contra corrupção e se esquiva de eleições
Entrevista foi na Governadoria, numa sala de reuniões totalmente repaginada
Ao concluir o primeiro ano de mandato, o governador Eduardo Riedel (PSDB) experimentou um 2023 de águas tranquilas na Assembleia Legislativa, com ampla base aliada e oposição de apenas dois deputados de “rede sociais”; reagiu rápido quando assessores foram alvos de operação por corrupção; e colheu aprovação popular ao liderar um Estado que explora a tríade grãos, celulose e turismo.
Na tarde desta sexta-feira (22), a entrevista ao Campo Grande News foi na Governadoria, numa sala de reuniões de “cara nova”, ainda rescendendo a tinta, onde uma enorme mesa acomoda 18 poltronas. À esquerda, surge uma grande tela de TV, enquanto que à direita a vidraça permite ver o Parque dos Poderes, com as bandeiras do Brasil e de Mato Grosso do Sul tremulando.
De respostas firmes, Riedel se mostra mais diplomático se o tema é eleição: preferindo, por exemplo, esperar o quadro de candidatos a prefeito de Campo Grande estar consolidado para decidir seu papel nesta corrida eleitoral.
Sobre as Eleições 2024, quando os sul-mato-grossenses vão às urnas para elegerem prefeitos e vereadores, Riedel afirma que participará de forma que não tenha conflito com a agenda de governador. A intenção é fazer campanha em boa parte das 79 cidades do Estado, mas em período noturno ou fim de semana.
“O processo eleitoral tem que ser muito bem separado da condução do governo. A gente não separa a pessoa, mas as ações e forma de atuar na eleição. A gente vai continuar trabalhando com os 79 municípios enquanto governo. O governo é um governo que não faz essa distinção. Mas vamos, sim, apoiar os candidatos que são do nosso grupo político. O que é muito natural de se fazer. Se tem dois candidatos que são opositores no município, mas os dois são do grupo político, e isso acontece, eu não vou participar”.
Questionado se vai adotar postura neutra em Campo Grande, considerando que o PSDB deve lançar a candidatura de Beto Pereira (atual deputado federal) a prefeito, enquanto que a prefeita Adriane Lopes deve buscar a reeleição, Riedel diz que aguardará a definição dos nomes. O PP, partido de Adriane, é liderado pela senadora Tereza Cristina, que foi aliada na campanha para eleger Riedel na acirrada disputa travada pelo governo de MS.
“A primeira coisa é saber quem é candidato. Não vou me antecipar às candidaturas postas. Eu tenho uma parceria com a prefeitura de Campo Grande, com a prefeita Adriane, com a senadora Tereza nem se fala. O partido e ela própria é uma grande parceira e aliada política. Tem que esperar a definição. Quem serão os candidatos em Campo Grande? O Beto está colocado como candidato, a Adriane é candidata. Mas já vi tanta coisa acontecendo. Então, nós não vamos nos antecipar. Quando definir as candidaturas efetivas, aí nós vamos participar dentro daquelas que estão colocadas. Vamos aguardar quem serão os ou as candidatas”, diz o governador.
Investigados exonerados – Se no dia 29 de novembro dois secretários adjuntos foram alvos de operação do Ministério Público por fraudes em contratos firmados em 2020, na data seguinte, dia 30, já estavam oficialmente exonerados dos cargos comissionados no governo. O governador explicou por que decidiu não esperar pelo fim do processo judicial.
“É a prática que a gente resolveu adotar para dar maior transparência e isenção às investigações. Não tem nada de julgamento a essas pessoas e nem as outras, não foram só os dois, tiveram mais de oito pessoas exoneradas. Tanto a nossa PGE [Procuradoria-Geral do Estado] quanto a Controladoria-Geral do Estado estão estudando ambos os processos, do ponto de vista da condução dos processos licitatórios, como os inquéritos sendo levados adiante”, diz.
Conforme o governador, ao término dos trabalhos, conforme o desfecho, as pessoas podem voltar. Mas, enquanto ainda houver investigação, a avaliação é de que “é melhor que estejam fora do cargo”.
Oposição de respeito – No primeiro ano de governo, Riedel contou com sólida base aliada entre os 24 deputados estaduais, sendo vozes dissonantes somente os deputados Rafael Tavares (PRTB) e João Henrique Catan (PL). Apesar do cenário, o governador disse ter enfrentado oposição a projetos, mas faz distinção entre oposição “de respeito” e de redes sociais.
“Não acho que não tenha tido oposição. Nós temos aliados na Assembleia que, em determinados assuntos, foram oposição. Aí, eu respeito muito. Porque você está debatendo o mérito das questões. Tem deputados do espectro mais à direita, que quando a gente entra com uma ação ele fala: 'olha, isso eu não vou votar'. Tem parlamentares de espectro mais à esquerda que quando entrei com uma ação falou: 'olha, com isso aqui eu não concordo'. Aí eu respeito e faz o bom debate. Existiu oposição a temas ao longo de todo o ano na Assembleia, é só pegar o placar de votação dos mais de 59 projetos de lei que foram para lá”.
Na sequência, exemplifica que o projeto para reajuste do programa de transferência de renda “Mais Social”, que vai passar de R$ 300 para R$ 450, provocou debates.
“Tinha gente que falava que não, que era preciso dar outro tipo de benefício. Mas é uma discussão do mérito, pode concordar ou discordar. Esses dois parlamentares não discutem mérito, eles discutem redes sociais. Com único objetivo de falar para o público deles e não para discutir na democracia o que está sendo realizado para o Estado. Então, vota contra o Mais Social, vota contra aumento de salário para professor, vota contra a Lei do Pantanal e aparece na mídia social. Tanto que não teve nenhuma discussão de mérito por parte deles. Aliás, o Rafael Tavares, que você mencionou, ainda tem um pouquinho sobre a discussão de mérito. O outro, nem isso”.
Desenvolvimento e Meio Ambiente – O governador não vê conflito em concentrar numa única secretaria tanto o desenvolvimento quanto o meio ambiente, no caso, a Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação).
“Não há a menor hipótese em desmembrar essas duas pastas. Estar junto significa facilitar a capacidade de articulação. É só olhar a Lei do Pantanal. Algo que foi feito e facilitado pela mesma secretaria, conduzir produção e todos os critérios de preservação daquele bioma. O fato de a secretaria estar trabalhando junto facilitou muito chegar a uma convergência”.
No Ranking de Competitividade dos Estados, divulgado em agosto pelo Centro de Liderança Pública), MS se saiu melhor em “capital humano”, que avalia o nível educacional da mão de obra, aspectos ligados à inserção no mercado de trabalho e os impactos sobre a produtividade da economia. Mas, o desafio era sustentabilidade ambiental, que engloba itens como destinação do lixo, reciclagem, tratamento de esgoto, coleta seletiva, desmatamento e emissões de CO2 (gás carbônico).
“Tem muito a ver com resíduo sólido, que é uma atribuição municipal. O que tem é uma ação necessária em termos de projetos de resíduos sólidos para o Estado e esse é um grande desafio. MS tem cidades pequenas, com distâncias grandes. Então, você tem que pegar aquele resíduo, no caso de consórcio, e levar diariamente para uma situação mais adequada do que lixão, que não cabe mais hoje. E a gente colocar num aterro adequado ou processamento desse lixo. E é uma discussão que os municípios têm tido e o Estado está à disposição para ajudar nesse processo”.
Reeleição – Questionado se pretender aplicar para si a opinião contrária à reeleição, externada durante a campanha eleitoral, Riedel optou por reformular a pergunta, se restringindo a manter a opinião contrária a segundo mandato em termos gerais.
“Se ainda sou contra à reeleição? Eu continuo sendo contra reeleição. Porque eu não acho que seja interessante para o sistema político essa prática. Acho que a reforma política tinha que enfrentar esse tema de uma maneira diferente. A gente está avançando no que diz respeito ao número de partidos, mas ainda estamos presos ao modelo de quatro anos, quatro anos, com eleição municipal no meio do caminho. Eu não gosto desse modelo, acho que a gente tinha que ter cinco anos de mandato e segue o caminho, sem reeleição, é o que penso. Mas não que eu vá ou não vá concorrer à reeleição. É que sou contra o instituto da reeleição”, afirma.
Aline dos Santos/CGNews